sábado, setembro 26, 2009

Sobre o gênio Quentin Tarantino

Quentin Tarantino é para os cults-nerds-descolados o que Glauber Rocha é para os feios-chatos-intelectuais: um ser intocável, inquestionável e supostamente genial. Glauber devia viver rodeado de gente igualmente insuportável e nem devia lavar os cabelos. Tarantino deve falar sem parar, citar dezenas de bandas e livros que ninguém conhece e se achar um ícone.

Tentarei explicar melhor o meu ódio por essa divindade a partir do conceito de “espectador Homem Simpson” cunhado por Willian Bonner. Tarantino deve ter a mesma expectativa diante do seu público que Bonner tem diante do seu telespectador. No lugar de uma rosquinha devorada aos montes, estão alguns gibis e um mp3 player cheio de músicas que o Homer Simpson original nunca compreenderia. No lugar da TV, um computador portátil. O Homer Nerd é ávido por demonstrar sua cultura geral diante dos tolos de nível médio.


Cabe aqui apresentar outro conceito dessa vez criado por mim mesmo: o conceito de “metáforas justificadoras”. Diante de um filme “pop”, “pipoca”, “sem cérebro”, “sem sentido”, “sem explicação”, “sobre o nada”, os críticos cinematográficos adoram usar a tática das metáforas justificadoras para explicar o porquê de terem simpatizado com a produção. Funciona assim: tudo na verdade é uma grande metáfora de alguma coisa. Exemplo: Por se passar dentro de um Shopping, Madrugada dos Mortos usa a história de zumbis para fazer uma metáfora sobre o consumo desenfreado da sociedade capitalista. Pronto. Agora não vai ser feio você dizer numa mesa de bar ou no jornal que adorou Madrugada dos Mortos. Aliás, críticos de cinema adoram encontrar metáforas em tudo.

Tarantino é comumente apontado como sendo um cineasta que utiliza uma estética pop para apresentar uma metáfora sobre a nossa cultura, tradições e vida moderna. Não senhores, Tarantino não faz metáfora de porra nenhuma. Tarantino não é antropólogo. Suas histórias são banais, seus diálogos são vazios e seus filmes são sobre nada. O nada, o vazio e a banalidade não são metáforas sobre a superficialidade (ou qualquer outra coisa). Eles simplesmente são. O nada não necessariamente é uma metáfora sobre o nada. Ele pode simplesmente ser o nada.

Daí Tarantino nos coloca diante de uma cena super longa em que várias garotas conversam sobre nada em um carro (À Prova de Morte). Muitos apontarão 300 citações pops em um diálogo estúpido. Outros apontarão milhares de pequenas metáforas. Eu vejo o nada. Recortar um fiapo de diálogo sobre sexo não faz disso algo especial. Se eu filmasse a Raquel e o Fantine conversando sobre Gays Famosos, teria uma cena muito mais inteligente, pop e interessante. Como não sou o Tarantino ninguém veria citação pop nenhuma, metáfora nenhuma e inteligência nenhuma.

Toda pessoa para ser digna de ser uma pessoa deve necessariamente odiar sem motivos racionais e ter preconceitos sem fundamentação. Eu, por exemplo, odeio Recife, odeio estudantes de estilismo, odeio secundaristas, odeio acordar antes das 8 e odeio pessoas felizes em demasia. Tenho um preconceito inexplicável por pesquisadores/artistas que se vestem de forma estranha, por instalações artísticas, coletivos artísticos e jovens cineastas cearenses. No caso do Tarantino tenho um punhado de razões para odiá-lo. O problema é que tenho uma quantidade igualmente significativa de motivos para amá-lo. Será que sou um Homer Simpson Nerd enrustido??

8 comentários:

Bruno Pontes disse...

Puta merda, concordo plenamente. Valeu, Zé Bruno!

Bruno Pontes disse...

Aliás, plenamente não:

"No caso do Tarantino tenho um punhado de razões para odiá-lo. O problema é que tenho uma quantidade igualmente significativa de motivos para amá-lo".

Eu não tenho motivos para adorar os filmes. Se passar Pulp Fiction na televisão, eu vejo, e é só. Não pagaria o ingresso do cinema por nenhum filme dele.

Unknown disse...

ahh, então agora fala dessa "quantidade igualmente significativa de motivos para amá-lo". pq tá difícil imaginar depois desse texto :P
haha. adorei teus pequenos ódios, zé. mas eu gosto da minha cunhada estilista.

Dr. Renan Ribeiro disse...

toh me sentindo até bem em não gostar dos filmes desse homem. Principalmente os da mulher dele. Vamos filmas os diálogos da Raquel e do Fantini?

Bruno Fantine disse...

Eu adoro o Tarantino! Confesso que tenho um pouco de medo dele, mas mesmo assim. Sou fã do nada, muito fã, e, como fã, sei que nem todo mundo tem sensibilidade pra saber o que é o nada bom e o nada ruim, e acho que o Quentin Tarantino poderia ter dirigido o Leona Assassina Vingativa ou a Vanessão nesse sentido, porque acho o nada dele ótimo! Zé arrasou no texto e alguém arranja uma câmera pq eu e a raquel temos futuro ahuhauahuahu

Raquel disse...

Acho Pulp Fiction a maior farsa pop de todos os tempos. Filme chato, sem graça, sem sentido, vazio.
Aliás, o único filme do Tarantino que aguentei ver sem sono foi Kill Bill 1, mas não tenho a menor vontade de rever...
Kill Bill pelo menos permitiu que EGO fizesse ensaios divertidamente toscos, unindo ex-BBBs, fita adesiva de quinta e uma bandeira do Brasil de cabeça para baixo. http://cultureba.com.br/2009/08/11/ana-carolina-do-bbb-9-usa-cosplay-de-kill-bill/

Bruno Pontes disse...

Essa Ana Carolina é bonita.

vasconcelos disse...

nem amo e nem odeio! também sinto os mesmos preconceitos que o Zé... e agora ainda mais com coisas que ja fiz, tipo povo do curso de comunicação que soh quer andar em samba, falar de chico buarque, cartola e noel rosa... Pra mim isso coisa de gente metida a ser cult, que nem escuta isso em casa mas quer ter uma valor cultural agregado em sua personalidade...
Nem amo e nem odeio o tarantino, não vejo nada demais... mas gostei dos filmes dele que vi... assim como gostei das musicas do noel rosa que ouvi, as do chico nem tanto.. chico eh um chato...