quinta-feira, abril 27, 2006

Minha crença no movimento estudantil acabou bem antes do previsto. Claro que existe gente honesta e verdadeira nesse meio, mas na verdade o movimento estudantil é uma grande turba de jovens vaidosos lutando por interesses individuais e até por status. Mas o pior é quando esse mundo se torna corrupto e se perde no meio de uma visão política rasa e que serve como base de sustentação para um governo.

Quando vi esse cartaz como o título “O Brasil é puro agito”, tive calafrios. Pensei imediatamente em sair de Fortaleza com fósforo e gasolina e em um ato solitário e heróico, queimar a UNE. Deveríamos todos nós fazer isso. Daí então poderíamos aproveitar e pôr fim ao encontro de estudantes da CONLUTE. Estaríamos livres.

Não é necessário ser nenhum doutor em análise do discurso ou publicidade para descrever o estudante que é público-alvo do cartaz. Pelas imagens, podemos concluir que o estudante da UNE é um jovem universitário, bonito, rico, freqüentador de boites e que acredita que vida é uma festa. Nada contra quem se enquadra nesse perfil. O problema é quando a carteira de estudante é tratada como um produto e o estudante como público consumidor.

Sou um profundo defensor de uma modernização das práticas do movimento estudantil. Uma modernização que incentive de forma mais criativa debates em torno de temas que estão tão distantes. Somos preguiçosos, apáticos e ignorantes. Nossa geração é insensível e vazia. Uma entidade com uma história tão intensa não deveria se tornar tão estúpida e inútil como se transformou a UNE.

O presidente da entidade, Gustava Peta, estava em Brasília essa semana defendendo parte do projeto da reforma universitária. No projeto que será enviado ao congresso na próxima semana, a porcentagem de verbas da educação que serão destinadas para as universidades será aumentada. Ainda existe a questão das cotas para negros e índios. Se o projeto for aprovado, 50% das vagas em universidades públicas deverão ser destinadas a negros e índios.

Tudo um grande equivoco. O país já investe muito no ensino superior. As verbas deveriam ser destinadas em maior montante para o ensino fundamental que é precário. A questão das cotas também não deve resolver o problema das desigualdades sociais dentro das instituições de ensino superior. A própria utilização do termo “raça” vem sendo extinta.

O que Peta não sabe é que todo país tem a universidade que merece. Ela é apenas um reflexo da nossa sociedade desigual e preconceituosa. O que o governo pretende fazer é um projeto populista e que apenas irá mascarar um problema que é muito mais complexo. As conseqüências da aprovação desse projeto poderão ser catastróficas.

Mas a UNE é base do governo Lula. Não seria diferente a visão do seu presidente. Mas do que importa a construção romântica de uma sociedade mais justa? Para que serve a crença em utopias necessárias quando o país é puro agito? Eu desisto!


PS: A estudante da foto da carteirinha faz Comunicação Social... Ainda bem que estamos no curso certo.

sábado, abril 22, 2006

Sabe quantas bandas de punk rock ou hard-rock estão entre as minhas preferidas? Nenhuma. Mas sou uma pessoa viciada em música... E em uma das dessas minhas buscas por sons diferentes acabei encontrando uns caras que faziam músicas em inglês e que tinham uma porrada de sons grudentos, daquele tipo que só a Kelly key e o Latino sabem fazer. Eram os Forgotten Boys. Desde então eles se transformaram em uma das poucas bandas nacionais que eu levo a sério.

Daí tem show deles aqui no inferno do Noise 3D, um buraco cheio de garotos fantasiados de indies, punks e emos, um circo. Depois de quase morrer afogado e ouvir uma banda chata que fazia uns solos de guitarra intermináveis, eu entro no calabouço. Lá estava a banda número 1 do Vasconcelos: kohbaia. Não me impressiono muito com vocalistas que ficam pulando no palco e tirando a roupa. Sempre acho que é recurso cênico pra ninguém prestar atenção na música. Era o segundo show deles que eu via e o início foi tão empolgante que eles logo ganharam minha atenção. Daí eu vi que na bateria deles havia um desenho da bandeira britânica. Sou alucinado pela terra da rainha, mas não gosto muito dessa adoração por símbolos de terras estrangeiras. Muitos podem não acreditar, mas tenho uma bandeira nacional do lado da minha cama desde os meus 15 anos.

Os caras do kohbaia vão embora e os do Forgotten Boys chegam. Não sei se eles estavam pensando em uma recepção mais calorosa, mas ninguém ligou muito pra eles. Eles ficaram durante horas do lado de fora do Noise e todos os trataram como desconhecidos. Nem pareciam AS estrelas da noite. Equipamentos e banda passando pelo meio do povo todo espremido e 45°C dentro do inferno. Show começa, pessoas fazem chifre do diabo na mão (isso já tá tão batido que até o demo deve dispensar a homenagem...) e todas as teens-descoladas-rockeiras vão pra perto do Chuck o galã magro e desafinado da banda.

Na primeira música eu já estava completamente convencido de que eles eram realmente bons. Deu pra pular e empurrar os outros, coisa que eu não fazia desde os meus 18 anos. Teve doida caindo em cima do povo, bateria quebrada, o EMO em cima do ombro de um indie que tentava se exibir pro Chuck e teve o Bruno Henrique que conseguiu ficar 1 hora de show sem tirar os pés do chão.

Foi sem dúvida um dos melhores shows que vi na vida, o que não significa absolutamente nada já que quase não vi nenhuma apresentação das minhas bandas preferidas. Mas o Forgotten Boys entrou pro meu TOP 10 nacional. Só falta o Supergrass brasileiro - Cachorro Grande e o Cansei de Ser Sexy, que eu quero vê ao vivo o que diabos é aquilo. Tem também o Moptop que eu quero ir pra jogar uma latinha na cabeça de cada um. Bom, agora eu já tenho a minha banda punk preferida.


O Gustavo Riviera é um clone do vilão da Malhação

segunda-feira, abril 17, 2006

54




A gente toca Quinta agora dia 20(véspera de feriado), com nova formação e novas coisas no repertório, no bar 615, na Desembargador Moreira, próximo à praça Portugal. COUVERT R$ 3,00. Mulher até 22h não paga e as 100 primeiras mulheres ganham 1 chopp.

domingo, abril 16, 2006

reflexões

E depois do ovo de pascoa...




Por que os seres humanos, pensantes, racionais, inteligentes, superiores, inventaram que coelho bota ovo??? e de chocolate?? e melhor... preto, branco, crocante, com frutas, avelãs, entre outros???

Ta bom... foi pela simbologia... Coelho representa fertilidade e o ovo o nascimento neh? ou é o inverso??? Onde entra o chocolate nessa historia?? E por Que é um coelho branco??? Vcs jah viram cartaz de pascoa com coelho Preto segurando ovo??? Por que colocar um coelho botando ovo???? Isso me traumatizou quando criança e demorei muito a entender que soh o ornitorrinco, o X-Men dos mamiferos, bota ovo e por isso foi criada uma nova ordem para poder classificá-lo, a ordem "Monotremata", e que coelhos, assim como os outros mamiferos têm, na verdade, placenta.

Por que na pascoa n se dão Placenta de chocolate????? Eu vo criar um movimento " Nesta Pascóa eu quero uma Placenta de chocolate".

Vai ser bom demais ver a lojas Americanas com placentas por todos os lados!! "Promoção : Placentas de chocolate em 12x sem juros" Placenta expalhadas por todos os lados!! Todo mundo com a placenta do filho, da filha, do vizinho, da tia, da mae, do bastardo, na mão, na fila do caixa!!

Já que colocaram o coelho por ser furnicador, poderiam colocar minha avó e meu avô, que tiveram 9 filhos... Ai teriam 2 opções de rpesentes.. O zóvo do vô vasconcelos e o zóvario da vó do vasconcelos!!! Ou melhor, Mais furnicador ainda.. o grande Zé mayer!! Dê o zôvo do Zé Mayer pra quem vc gosta nesta pascoa!!

Ai aquele concurso da mulher mais furnicadora, que a brasileira ficou em 2° lugar, teria sentido. A mulher mais furnicadora alem do prêmio em dinheiro e estrelar o filme pornô mostrando sua performance, ganharia o prêmio maior: Símbolo da Pascoa!!! Ia ser sucessso!! Garanto!!!

Coelhinho da páscoa que trazes pra mim 1 placenta 2 placentas 3 placentas...

Sei lá

Esse negoço ae é legal, peguei no noolhar, vale a pena dar uma conferida...



PALCOS
Da esquina ao cabaré

A esquina da José Avelino e Senador Almino, na Praia de Iracema, reúne parte da freqüência do underground. A série Palcos situa os “vizinhos” Noise 3D e Hey Ho Rock Bar no contexto da cena hoje e revela: o Motel 90, bordel clássico da cidade, recebe a Kohbaia e outras bandas



[13 Abril 02h21min 2006]

Um aglomerado até razoável de gente - com sinais de muvuca, em dias de pico. O cruzamento de carros "atrapalhando" o sossego dos passantes. Quem anda ali desavisado talvez pense que é um lugar só. De um lado, o Noise 3D Club. Do outro, o Hey Ho Rock Bar. A programação contínua e relutante desses lugares chama atenção e subverteu a tendência de ciclos breves dos espaços musicais da cena. Até hoje.

Ainda no fim dos 90, era diferente. De 2000 para cá, a Internet cedeu uma proporção maior de divulgação aos espaços. Por conseqüência: longevidade. O Hey Ho fez três anos este ano. Já o Noise "aniversariou" uma vez. "A tendência é que Fortaleza está crescendo e precisa de mais opções para o público diverso", acredita o DJ Danny Husk, 26, residente no Noise 3D.

"Acho que foi uma bola de neve. As coisas foram ficando mais profissionais. As pessoas perceberam que o apoio não viria. Nem de empresário, nem dos meios de comunicação. E o Hey Ho veio dessa forma. Os eventos passaram a ter uma qualidade muito grande, apesar de não ser tão rentável assim", define Rafael Bandeira, 27, sócio do Hey Ho.

O DJ crê que o Noise preenche uma lacuna. Faz sua distinção entre os vizinhos. "Vejo que o Hey Ho tende mais para o metal, o punk, o rock dos anos 70. O alternativo lá é mais esporádico. O Noise, não, já cumpre duas funções: a dos pequenos lugares, ou seja, um público de 80 pessoas dá legal. E ainda contempla as expectativas de uma galera que vivia em shows esporádicos".

Noise 3D foi cria do extinto Ritz Café, na Rua Dragão do Mar. O nome batizava um projeto da casa que hoje inexiste. "Surgiu do Dado (também DJ), e do Marco Aurélio e do Marcel, que tocavam na 69% Love", situa Danny. Além de um tanto de bandas identificadas com a casa, o espaço apertado revelou o Montage, de 2005 até cá, à cena independente nacional. Chegou a faltar ingressos na bilheteria no auge do fetiche pelos caras.

Ao contrário do perfil comum do empresariado, Rafael Bandeira é desprendido ao falar das broncas na gerência da noite. "É impossível trazer uma banda de São Paulo e custear tudo. A gente trabalha muito com cidades vizinhas: Natal, Recife, ajudam a diminuir os custos. Isso é fundamental: nunca uma banda veio e teve de voltar. Antes de eu entrar o bar quase fechou. O Miguel e o Gê cuidavam. O Bebeco entrou na sociedade sendo que com o decorrer das coisas os dois primeiros se distanciaram. A situação ficou insustentável. Fizemos outro contrato social eu comprei a briga".

Entre shows do Ludov, Dead Fish, Sugar Kane, Autoramas, além do circuito local, o último show do Ratos de Porão no bar, há dois anos, rendeu história "pesada" à memória do underground. Um grupo que se denominava skinhead tentou derrubar um dos portões. E alguns destroços sobraram por lá. "Prejuízo em termos financeiro não foi nenhum, o público já estava lá dentro. Foi mais a questão da imagem do que financeira. Toda aquela turnê foi complicada, O João Gordo tava de saco cheio de viajar, porque a filha tinha acabado de nascer. Deu problema em Natal também, o show parou. Quem esteve lá, viu que não foi um problema causado por falta de estrutura. Só queriam fazer confusão", conta. (Felipe Gurgel)


Como assim?
Não se engane pelo nome: o esquema é de um cabaré. O Motel 90 é um dos espaços "improvisados" da cena local que deu certo. Sem "moral" alguma, realiza shows esporádicos há dois anos. O desejo de tocar ali veio de um "sonho" adolescente e iniciativa dos integrantes da Kohbaia - banda tarimbada da cena. "O Robério (Augusto) levou o Jonnata (vocalista) para arrumar uma mulher lá. Gravamos um clipe no primeiro show, já passou oito vezes na MTV. Só não passa na TV União porque rola num puteiro", conta Saulo Raphael, o baixista.

O próprio Jonnata Doll, 24, detalha o que aconteceu. "Foi em 98, eu tinha uns 17 anos e o Robério me levou lá e pagou uma figura que hoje é balzaquiana. Fica só na dela, não brilha mais tanto. Desde esse dia eu queria tocar lá. O primeiro show rolou em 2004, uma noite bem freak, com 300 pessoas. Todo show lota. Já tocou Dago Red, Velocípede, Veida".

Em outubro de 2005, uma festa por lá ocorreu paralela ao Ceará Music. Apesar da concorrência, o show atraiu gente para além do som: houve sorteio de uma noite de sexo gratuito ao lado de uma das meninas da casa. "Quem ganhou foi uma lésbica que estava acompanhada. Nem usufruiu do prêmio", conta Jonnata.

Segundo o vocalista, a próxima festa ocorre dia 13 de maio. Ele descreve as feições da casa e a história. "O palco é minúsculo, tem um carpete vermelho e o fundo é um espelho. É próprio para strip tease. Quando tem festa, não é lucrativo para as prostitutas. Embora o esquema delas funcione normalmente. Fica ali na Tristão Gonçalves, 90, por isso o nome. A cidade começou por ali. Se não me engano, os bordéis foram expulsos para a periferia antigamente e ele ficou. É bem antigo, antes do Jean, o atual dono, a mãe dele era quem cuidava. Já virou tese de comportamento, é o bordel clássico de Fortaleza - e tem uns 50 anos". (FG)

domingo, abril 09, 2006

>> Os chineses vão dominar o mundo. Pelos menos eles são criativos. Um deles fez uma cirurgia de catarata, mas algo deu errado e ele ficou com dificuldade de enxergar coisas distantes. Nenhum oftalmologista conseguiu fazer uns óculos que servisse para ele, daí resolveu adaptar esses óculos estilosos aí. Queria um desses...

>> E a M/Brazil está recrutando babás para trabalhar na Inglaterra. A remuneração média é de 50 libras por semana (equivalente a R$ 800 por mês). Além disso, as babás disporão de tempo livre para estudar e viajar. Para agendar entrevista ou obter mais informações, as candidatas podem ligar para (11) 4586-9496. OPORTUNIDADE ÚNICA! Só uma coisa eu não entendi: não precisa falar inglês. Tô achando que é pra ser babá de gente um pouco mais velha...

>> O nosso astronauta voltou. Junto trouxe o feijão que plantou no algodão quando estava no espaço. Deve revolucionar a ciência aqui no Brasil....

>> Por pouco não fiquei milionário. Acertei 3 números da mega sena. Já tava imaginando minhas viagens, os shows, as comidas boas... Amanhã mesmo eu estaria no caribe...

>>Ah, o teto do estúdio de TV da Comunicação tá desabando. Tudo castigo. Quem manda não deixar usar.

>> Esse semestre vai ser um caos...

quarta-feira, abril 05, 2006

clash

Britânico canta The Clash e é preso suspeito de terrorismo




LONDRES (Reuters) - Detetives antiterrorismo britânicos prenderam um homem em um avião após um motorista de táxi ter suspeitado dele quando começou a cantar canções da banda punk The Clash em seu carro, informou a polícia nesta quarta-feira.

Detetives pararam o vôo com destino a Londres no aeroporto de Durham Tees Valley, ao norte da Inglaterra, e Harraj Mann, 24 anos, foi preso.

O motorista de táxi ficou preocupado no caminho para o aeroporto quando Mann começou a cantar "London Calling", do The Clash, que contém em sua letra a frase "Now war is declared -- and battle come down" (Agora a guerra foi declarada -- e a batalha começa).

Mann disse a jornais britânicos que o táxi tinha um sistema de som que permite a ele conectar seu mp3 player no carro e começou a ouvir The Clash, Procol Harum, Led Zeppelin e Beatles.

"Ele não gostava de Led Zeppelin e The Clash, mas não acho que precisava ter chamado a polícia", disse Mann ao Daily Mirror.

Uma porta-voz da polícia em Durham afirmou que Mann foi solto após interrogatório. Entretanto, ele perdeu o vôo.

(Por Michael Holden)

Fudeu Adílson!!! Vamu mais tocar ela não!! Não quero ser preso!! Quando a gnete tocar em londres a gente exclui london calling do repertorio!!

terça-feira, abril 04, 2006

who

Quem é esse??




domingo, abril 02, 2006

tv digital

TV Digital - A desinformação e a pressa



por Carolina Ribeiro, Edison Lima e Gustavo Gindre

Impressiona a quantidade de informações equivocadas que circulam pela mídia em relação à implantação da TV Digital no Brasil. Assusta também a quase inexistência de informações sobre o que foi desenvolvido no país. Fala-se bastante de uma briga “do quem dá mais” entre europeus e japoneses. Fala-se, geralmente em aspas atribuídas ao ministro das comunicações, que o Brasil tem muita pressa para a definição do modelo, pois se tudo não for resolvido agora perderemos uma oportunidade histórica. Qual? A de ver a Copa do Mundo em TV Digital ? Claro.

A primeira grande questão que merece esclarecimento é o argumento da pressa. O Brasil tem algumas opções para implementar um sistema complexo como a TV Digital: ou constrói algumas coisas e compra outras, ou compra um elefante e tenta adaptá-lo para que ele trabalhe como um cavalo. A proposta do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que reuniu 80 grupos de pesquisa e recebeu um investimento de R$ 50 milhões do governo (muito pouco dinheiro se comparado à grande quantidade e qualidade dos resultados obtidos), era justamente a primeira. Construir parte do sistema e pegar algumas coisas prontas. A proposta que vem sendo defendida pelo Ministro das Comunicações é adotar o padrão japonês (ISDB) e talvez fazer adaptações para que ele funcione no Brasil.

Por que ninguém explica nada direito e não assume que o melhor padrão é o brasileiro?
Entre as tecnologias desenvolvidas por aqui, uma delas é justamente a modulação, que equivale ao que a mídia chama de “padrão”. O japonês (ISDB) e o europeu (DVB) já são bem conhecidos de nome, mas pouco explicados em relação às diferenças entre eles. Em 2000, o sistema japonês permitia a transmissão de sinais independentes para a TV e para receptores móveis (como o celular), enquanto o europeu era mais limitado. Isso levou a Associação Brasileira de Rádios e TVs (Abert) a usar o argumento da "recepção móvel" como mote para a defesa do ISDB.

A partir de 2004, com a introdução do DVB-H, essa diferença deixou de existir. Mas a retórica continuou, e agora embolaram a discussão, com as emissoras defendendo o ISDB porque isso manteria o canal na mão deles, e as empresas de telefonia defendendo o DVB porque isso daria a abertura para elas participarem desse mercado. Na verdade, ambos os argumentos são furados. Tanto o DVB quanto o ISDB permitem a transmissão de sinais para celulares e, se as teles vão ou não participar desse mercado, é uma coisa que depende da regulamentação, não da tecnologia.


Um ponto em que tanto o DVB quanto o ISDB deixam a desejar é que, nos testes realizados em São Paulo no ano 2000, nenhum dos dois conseguiu ser recebido em 100% dos pontos de teste – e eram pontos localizados em bairros próximos ao centro. Foi isso que levou o Brasil a pesquisar novas alternativas, com os trabalhos do Mackenzie (SP), INATEL (MG) e PUC (RS). Os dois primeiros trabalham com melhorias baseadas no sistemas existentes, enquanto que o último parte de uma abordagem radical – usa um equalizador baseado em inteligência artificial, coisa que não existe em nenhum dos sistemas atuais (ATSC, DVB, ISDB). Isso dá mais robustez, ou seja, permite levar mais informação, tanto para programas em alta definição quanto para ser recebido em veículos a 120 km/h .

A obsessão da Globo e do ministro Hélio Costa pelo padrão japonês é incompreensível. Se a questão é um sistema que permite levar alta definição para a TV e um programa para celulares ao mesmo tempo, com a maior qualidade possível, por que então não defendem o Sorcer, modulação desenvolvida pela PUC/RS, que é melhor, atende às demandas dela e é nacional, assim como o conteúdo global e a bandeira que eles tanto levantam na mídia? Fica claro que há muito mais por trás dessa preferência do que a lógica acima exposta.

Para o elefante virar cavalo
Além do Sorcer, outros componentes inovadores desenvolvidos pelos pesquisadores brasileiros devem sofrer com a adoção de um padrão estrangeiro goela abaixo. As pesquisas que desenvolveram o FlexTV (UFPB), um middleware brasileiro, tomaram como base o MHP (o middleware do padrão europeu – DVB), mas evoluíram consideravelmente, sendo elogiados inclusive por pesquisadores europeus. O middleware japonês é bem mais limitado.

A nação tupiniquim desenvolveu ainda o Maestro (PUC Rio), um mecanismo de sincronização de mídias para a reprodução de programas multimídia interativos, que não existe em lugar algum no mundo. Desenvolveu aplicativos como o TVgrama (UnB), que é um e-mail que não precisa de canal de retorno, importantíssimo para a imensa parcela da população que não tem linha telefônica. Desenvolveu aplicativos como o museu virtual (UFPR), que apresenta imagens em 3-D, que podem ser manipuladas pelo usuário. É um aplicativo muito útil para finalidades educativas, pra recriar ambientes em aulas de geografia, história, biologia. Há também aplicativos nas áreas de saúde (UFSC), governo eletrônico (UFC, BRISA), segurança da informação (Genius, CESAR, FITEC) e muitos outros.

Uma outra questão importante que diz respeito à tecnologia é como ela interfere no modelo de serviços. O modelo de serviços é a definição de como funcionará a nova televisão brasileira. Se ela trará novos canais, se oferecerá mobilidade, como será a interatividade, se haverá serviços de governo eletrônico e educação à distância, se terá uma alta definição que só será possível ver com televisores de 10 mil reais ou se trará uma programação com qualidade de imagem de DVD, mas acessível a todo mundo. Essas questões não dependem tanto da tecnologia, mas sim da forma como ela é combinada. Logo, é uma bobagem dizer que só japoneses poderão oferecer alta definição. Ou que só europeus oferecerão novos canais. A tecnologia, tanto a desenvolvida lá fora, quanto a desenvolvida aqui, no que toca a essas questões, pode fazer qualquer coisa. É verdade que algumas tecnologias são mais adequadas que outras para as finalidades desejadas. Não dá para rodar os aplicativos desenvolvidos no Brasil usando o middleware japonês, por exemplo. Mas há outro detalhe fundamental.

Para que possamos modelar a tecnologia às demandas da sociedade, é preciso ter pleno acesso a ela. No caso do SBTVD, toda a parte de software (e até um dos itens de hardware) foi feito em software livre. No caso dos outros sistemas, muitos componentes estão patenteados, até com uma patente da Microsoft. Isso mostra limitações para adequarmos ao que queremos – o que reforça a necessidade de termos mais tempo para definir modelo de serviços antes –, para o desenvolvimento futuro de acordo com as demandas que surgirem e ainda nos impõe o pagamento de royalties altíssimos, o que a longo prazo é um rombo no orçamento da União.

A mídia e o governo deveriam estar atentos a essas questões para esclarecer à população do que realmente se trata a definição, mas também para perceber que a pressa não é inimiga somente da perfeição, mas também da democracia, do bom-senso, do desenvolvimento nacional e do interesse público.

Carolina Ribeiro é jornalista e integrante do Coletivo Intervozes. Gustavo Gindre é jornalista, mestre em Comunicação, coordenador-geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) e integrante do Coletivo Intervozes. Edison Lima é diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia-SP (Sintpq).