segunda-feira, julho 24, 2006

Um texto do Abel

Texto Do ABEL.

Ser bom vale a pena? Ser gentil vale a pena? Caso me perguntassem isso eu acho que responderia que depende, mas de maneira geral, esse “depende” está mais para um “não”. Se a questão fosse ganhar, o que se ganha em troca disso? O que se perde?
O mundo e seus dilemas morais. O eterno embate entre o bem e o mal, o certo e o errado, sempre postos em lados opostos, mas mantendo uma relação tão tênue, tão próxima...

Nasci com a ajuda de alguns, cresci com a ajuda de outros, vivi no meio de muitos outros. Compartilhei experiências com muitos deles? Sempre fui gentil, sempre fui bom, e o que ganhei em troca? A solidão. Esse foi meu ganho. Talvez por culpa minha. Talvez isso nada tenha a ver com minha gentileza. Talvez por mera idiossincrasia. O fato é que a solidão me acompanha, não pela falta de companhias, mas por falta de alguém que me entendesse. Até hoje ninguém.

Nasci sem saber se ia crescer. Cresci sem saber o que viria pela frente. Vivo sempre na expectativa de melhora. As perguntas e incertezas freqüentes neste texto refletem a incerteza da vida, e utilizando o popularizado jargão eu lhe digo: a única certeza da vida é a morte, e só por causa dela, por saber que um dia ela chegará é que fazemos nossas realizações, nos planejamos, nos lamentamos, nos odiamos, nos amos. Contudo a própria morte é uma incerteza. Ou por acaso você sabe me dizer como ela é?

Pra que sirvo? Se eu fosse uma obra de arte Nitzsche diria que não sirvo para nada, que minha única condição é minha existência e o que eu provoco nas pessoas através de seus sentidos. Essa seria minha única verdade. Queira me desculpar meu velho amigo Nitzsche, mas eu sirvo para muito além disso. Sirvo para ser gentil, educado, e bom para as pessoas que eu gosto(que lindo!). Mesmo que isso não me traga nada em troca. Mesmo que eu continue na eterna solidão, no eterno vazio, mergulhado em um poço de racionalidade em um mundo tecnocrático que esqueceu de ser sensível. E o que eu queria era viver a sensibilidade, o amor e a loucura. Viver à flor da pele.

Se a perspectiva da morte é que move nossos atos, pobre seja Raul Seixas que nasceu “há 10 mil anos atrás” e pobre seja a Esperança, que “é a última que morre”. Não devem ter concebido nenhuma realização.

Mas por que falar tanto em mim? Olhe o mundo. Olhe a bagunça que está o mundo. Talvez você não perceba porque já nasceu nesse mundo louco em que vivemos. O mundo pós-crack, pós-moderno, pós-qualquer coisa. O prefixo pós que dá a idéia de progresso e superação. Essa superação existe? Esse mundo existe? O mundo é realmente o que vemos nos cartões postais? Já se imaginou sendo membro de uma sociedade primitiva e caindo de pára-quedas nesse mundo? É sem dúvida um mundo pluralista, de muitas possibilidades (se você tiver dinheiro, é claro). Um mundo que posa de inclusor social, de diversidade cultural.

Na verdade um mundo que lhe é imposto, em que se você não se adequar não se dará bem. Quais as possibilidades que tenho? Se quiser o carro do ano não posso tê-lo, se quiser ir conhecer o Louvre em Paris não posso, se quiser ir até o presidente dos Estados Unidos e emitir minha opinião perante os seus atos “eles” não irão me deixar. E onde fica minha liberdade de expressão? O tratado internacional dos direitos humanos? O respeito e a dignidade de cada cidadão que lhe é roubada todo santo dia? Não jogo com opiniões próprias, mas com observações factuais. É um mundo estreito e achatado, que se diz pluralista, mas que ainda age cartesianamente.

Voltando a mim, acho que nunca dei um conselho a ninguém por escrito, apenas informalmente, e nem foram tantas vezes assim. Mas como estou querendo achar uma finalidade para minhas palavras enquanto escrevo esse texto talvez um conselho caia bem. Vai a negrito e em caixa alta pra ser bem pontual: NÃO CRIE SUAS ATITUDES ESPERANDO ALGO EM TROCA, A POSSIBILIDADE DE VOCÊ SE FRUSTRAR É BEM GRANDE.

Com toda essa salada, vale a pena ser bom? Vou retomar meu pensamento sobre isso. Um conceito fechado nunca foi minha praia. Um homem inteligente é um homem flexível, que pode repensar seus conceitos (se bem que isso já é um conceito de homem inteligente).

• Orgulho – deixo para os tolos.
• Mentiras – deixo para os oportunistas.
• Inteligência – tenho pena que não posso compartilhá-la com todos.
• Intolerância – todo mundo tem preconceito em relação a alguma coisa ou alguém, só que ninguém admite.

Não espere encontrar sentido neste texto. Como você pode perceber ele é coberto de contradições, de desvios, não tem um mínimo foco e nem coerência. Mas ele veio de mim, nasceu de mim, é reflexo meu. Talvez ele lhe traga algum pensamento, um momento de epifania, o que a psicologia chamaria de Insight. Caso isso venha a acontecer, mesmo que não seja agora, meu objetivo (que a princípio não existia) será alcançado, e quem sabe você entenda um pouco de mim.

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