Minha crença no movimento estudantil acabou bem antes do previsto. Claro que existe gente honesta e verdadeira nesse meio, mas na verdade o movimento estudantil é uma grande turba de jovens vaidosos lutando por interesses individuais e até por status. Mas o pior é quando esse mundo se torna corrupto e se perde no meio de uma visão política rasa e que serve como base de sustentação para um governo.
Quando vi esse cartaz como o título “O Brasil é puro agito”, tive calafrios. Pensei imediatamente em sair de Fortaleza com fósforo e gasolina e em um ato solitário e heróico, queimar a UNE. Deveríamos todos nós fazer isso. Daí então poderíamos aproveitar e pôr fim ao encontro de estudantes da CONLUTE. Estaríamos livres.
Não é necessário ser nenhum doutor em análise do discurso ou publicidade para descrever o estudante que é público-alvo do cartaz. Pelas imagens, podemos concluir que o estudante da UNE é um jovem universitário, bonito, rico, freqüentador de boites e que acredita que vida é uma festa. Nada contra quem se enquadra nesse perfil. O problema é quando a carteira de estudante é tratada como um produto e o estudante como público consumidor.
Sou um profundo defensor de uma modernização das práticas do movimento estudantil. Uma modernização que incentive de forma mais criativa debates em torno de temas que estão tão distantes. Somos preguiçosos, apáticos e ignorantes. Nossa geração é insensível e vazia. Uma entidade com uma história tão intensa não deveria se tornar tão estúpida e inútil como se transformou a UNE.
O presidente da entidade, Gustava Peta, estava em Brasília essa semana defendendo parte do projeto da reforma universitária. No projeto que será enviado ao congresso na próxima semana, a porcentagem de verbas da educação que serão destinadas para as universidades será aumentada. Ainda existe a questão das cotas para negros e índios. Se o projeto for aprovado, 50% das vagas em universidades públicas deverão ser destinadas a negros e índios.
Tudo um grande equivoco. O país já investe muito no ensino superior. As verbas deveriam ser destinadas em maior montante para o ensino fundamental que é precário. A questão das cotas também não deve resolver o problema das desigualdades sociais dentro das instituições de ensino superior. A própria utilização do termo “raça” vem sendo extinta.
O que Peta não sabe é que todo país tem a universidade que merece. Ela é apenas um reflexo da nossa sociedade desigual e preconceituosa. O que o governo pretende fazer é um projeto populista e que apenas irá mascarar um problema que é muito mais complexo. As conseqüências da aprovação desse projeto poderão ser catastróficas.
Mas a UNE é base do governo Lula. Não seria diferente a visão do seu presidente. Mas do que importa a construção romântica de uma sociedade mais justa? Para que serve a crença em utopias necessárias quando o país é puro agito? Eu desisto!
PS: A estudante da foto da carteirinha faz Comunicação Social... Ainda bem que estamos no curso certo.