Não tive uma infância fácil. Usava óculos gigantescos que me cobriam a cara. Era um garoto com cara de nerd que não era um nerd. Eu era uma farsa. De nerd só tinha a tradição de apanhar na saída do colégio. Sempre. Como naqueles seriados americanos. Eu era um nerd burro. Ou seja, talvez eu nunca tenha sido um nerd. Talvez eu tenha sido a vergonha da classe nerdistica. Fiz minha mãe chorar diversas vezes. A cor vermelha era bem mais presente que a cor azul no meu boletim.
Na adolescência fui um garoto normal. Recluso. Escola-casa-cinema-casa. Fiz algumas merdas. Merdas comuns. Qualquer um poderia fazer o que eu fiz. Depois teve aquela situação que me deixou na merda. A grande merda da minha vida. Coisa de vilão da Malhação.
E aqui estou eu em uma faculdade que não sonhei entrar e em uma escola que sempre sonhei fazer, mas que agora eu quero sair. E quando digo que vou virar vendedor de sapatos na Casa Pio ninguém acredita. Na verdade esse sempre foi meu grande sonho. Sério. Ia com minha mãe para o centro só para admirar os vendedores vestidos de camisa verde e sapato de camurça marrom.
E não venham com essa coisa de energia positiva. Quem tem que se preocupar com essa bobagem é o Paulo Coelho e a Lya Luft. Eu sou realista.
Dia 02 tem show da tal banda naquele banheiro que é o Noise 3d. Eu não irei. Prometo que não estarei lá cantando "Todo amor termina com um coração que se parte". Essa coisa de fanático-apaixonado já deu. Chega. Só sei que a idéia de minha grande família está cada vez mais longe. Nada de crianças correndo pelo corredor. Nada de casa no campo. Nada de dança romântica em frente da lareira ao som de Tom Jobim.
Eu só sei que vou comer mais chocolate e ler mais um spoiler do Lost. Coisas que faço todas as quintas. Como toda quinta qualquer.
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